top of page

Salema-Sussurros dos Afogados

Sinopse

Salema - Sussurros dos afogados traz à tona as jornadas da jovem Luzia, de sua avó, Sinhá Ricarda e de João, o capataz. A condição de miséria em que vivem Luzia e sua avó, aninhadas num casebre frente ao mar, contrasta com a condição social de João, o capataz, fiscal, que comanda pescadores, e deseja casar com a neta da Sinhá, oferecendo-lhe uma vida mais farta, longe da pobreza em que vive. Salema - Sussurros dos Afogados pode ser traduzido como uma pulsão poética que dialoga com a solidão humana, com o amor, com as desigualdades sociais, o embate entre a realidade crua de sobrevivência e a esperança por dias melhores. O espetáculo mostra a trajetória de confronto entre masculino e feminino, opressor e oprimido, vida e morte, um processo existencial constantemente vivenciado no universo espiralar de começo, meio, fim e recomeço, metaforizado pela quarta persona da ação dramática, o Mar.

O texto O capataz de Salema do pernambucano Joaquim Cardozo, obra base deste trabalho teatral, engendra uma dramaturgia em que o mar apresenta-se como personagem central. A poesia de Cardozo mostra-se como uma espiral que cava na terra suas raízes, buscando sua seiva na vida do homem comum. Salema Sussurros dos afogados, da Cia Luzia de Teatro é a expressão viva dessa poesia. No corpo dos atores, os elementos de Cardozo se manifestam em cena, os opostos de comandante e comandado mostram-se cheios de sinuosidades enquanto o destino busca impor-se determinante. As figuras colocadas para jogar dentro desse cenário desértico e aparentemente sem saída buscam a todo instante escapar à rede desse destino, feito um peixe. A montagem de Salema - Sussurros dos afogados teve como eixo principal o universo poético de mar, amor e morte do texto O capataz de Salema de Joaquim Cardozo. Na obra do poeta o Mar aparece como personagem que intervém com seus ruídos e silêncio.

 

O trabalho transita pelas proposições cardozianas, abordadas por um prisma mítico e as aproximando de dramaturgias afins, como Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues e Electra Enlutada, de Eugene O’neil. Outra frente da pesquisa foi a Artetnografia, conceito desenvolvido pela diretora e dramaturga Luciana Lyra, em pesquisa de doutorado em Artes Cênicas (UNICAMP/SP) e pós doutorado em Antropologia (FFLCH/USP), e que se traduz por um processo de experiência dos artistas com um contexto de alteridade, que dialoga com o espaço ficcional da peça potencializando a construção da encenação. Partindo desse princípio, o grupo de artistas-pesquisadores foi a campo na comunidade pesqueira do Pontal Leste na Ilha do Cardozo (SP) em julho de 2012, onde pôde vivenciar o cotidiano de pescadores e suas famílias, as estratégias de sobrevivência, o ritmo da vida, as posições ocupadas pelas mulheres e pelos homens do vilarejo, o momento de adentrar o mar furando as ondas com um barco. Ir a campo mostrou-se como absolutamente essencial no processo de criação do espetáculo.

 

A paisagem na obra de Joaquim Cardozo não se apresenta como um pano de fundo para a narrativa, ao contrário, ela é fundamental e se funde às figuras. Luzia é terra. O Capataz é Mar. Além da proposição Artetnográfica, a encenadora Luciana Lyra utilizou também a Mitodologia em Arte, associando questões pessoais dos atores e atrizes envolvidos no processo à investigação na comunidade, numa f(r)icção com o texto-base de Cardozo. O espetáculo cumpriu temporada em fins de 2012, na Escola Livre de Teatro de Santo André, participou da mostra TUSP e vem trabalhando para novas investidas.

bottom of page